Depois que os sonhos de um carnaval com mais uma vitória de nossa estimada Escola de Samba Unidos de Santa Fé tiveram que ser adiados, depois que o desatino da mãe natureza quase tudo reduziu a pó, resta-nos juntarmo-nos à marcha dos acontecimentos dessa longa Quarta-feira de cinzas, dançar conforme a música que se apresenta (tango, choro, samba...) para, na adversidade, renascermos como a Fênix da obra de Gilvan Samico, que estampa a capa dessa edição.
Agora é levantar, sacudir a poeira e dar a inevitável volta por cima, por que antes de tudo, Maior é Deus!
Neste mês apresentamos um pequeno documentário sobre a Ponte Preta realizado pelos alunos do curso de Audiovisual da Calçada da Cultura. A gravação ocorreu em dezembro, antes portanto da destruição de nossa Ponte Preta em decorrência da enchente de Janeiro.
E já que tocamos no assunto documentário, cabe assistir também ao seminal Aruanda, de Linduarte Noronha. Realizado em 1960, esse curta-metragem é por muitos considerado um dos precursores do Cinema Novo. O filme retrata a vida de descendentes de escravos quilombolas no sertão paraíbano.
Ficha Técnica de Aruanda, AQUI
Um texto de Glauber Rocha sobre o filme, AQUI
Para Saber Mais, AQUI
O professor Marco Corabi, coordenador do Polo de Apoio Presencial, conta um pouco da história da vinda da Universidade Aberta do Brasil e da Escola Técnica Aberta do Brasil para São José, esclarece sobre como é o funcionamento do Polo, e adianta novidades sobre a abertura de novas vagas e a criação de novos cursos.
Gilvan Samico nasceu em Pernambuco e iniciou-se na pintura de maneira auto-didata. Mais tarde foi aluno de Oswaldo Goeldi e de Lívio Abramo, dois dos maiores gravuristas brasileiros. De início seu trabalho foi marcado pela influência dos dois mestres, mas aos poucos foi encontrando seu estilo, especialmente quando seguindo os conselhos de Ariano Suassuna mergulhou no universo da Literatura de Cordel e seus xilogravuristas, bem como na cultura nordestina como um todo
Nascido em Portugal em 1608, o Padre Antônio Vieira veio para o Brasil ainda pequeno onde se ordenou e começou a atuar na Companhia de Jesus. Considerado um dos maiores autores do Barroco em língua portuguesa, deixou uma obra constituída de Sermões, Cartas e Profecias. Este Sermão da Quarta-feira de Cinzas foi proferido em Roma, na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, no ano de 1672.
Trechos do Sermão de Quarta-feira de Cinzas, do Padre Antonio Vieira, lidos pelo ator Luís Miguel Cintra na Igreja de Santa Isabel (Lisboa)
Sermão da Quarta-feira de Cinzas - Parte 1
Sermão da Quarta-Feira de Cinzas
Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris.
Lembra-te homem, que és pó, e em pó te hás de converter.
Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas, ambas certas.
Mas uma de tal maneira certa e evidente, que não é necessário entendimento para crer: outra de tal maneira certa e dificultosa, que nenhum entendimento basta para a alcançar.
Uma é presente, outra futura, mas a futura vêem-na os olhos, a presente não a alcança o entendimento. E que duas coisas enigmáticas são estas? Pulvis es, tu in pulverem reverteris: Sois pó, e em pó vos haveis de converter. — Sois pó, é a presente; em pó vos haveis de converter, é a futura.
O pó futuro, o pó em que nos havemos de converter, vêem-no os olhos; o pó presente, o pó que somos, nem os olhos o vêem, nem o entendimento o alcança. Que me diga a Igreja que hei de ser pó: In pulverem reverteris, não é necessário fé nem entendimento para o crer.
Naquelas sepulturas, ou abertas ou cerradas, o estão vendo os olhos. Que dizem aquelas letras? Que cobrem aquelas pedras? As letras dizem pó, as pedras cobrem pó, e tudo o que ali há é o nada que havemos de ser: tudo pó.
(...)
De sorte que para eu crer que hei de ser pó, não é necessário fé, nem entendimento, basta a vista.
Mas que me diga e me pregue hoje a mesma Igreja, regra da fé e da verdade, que não só hei de ser pó de futuro, senão que já sou pó de presente:
Pulvis es?
Como o pode alcançar o entendimento, se os olhos estão vendo o contrário? É possível que estes olhos que vêem, estes ouvidos que ouvem, esta língua que fala, estas mãos e estes braços que se movem, estes pés que andam e pisam, tudo isto, já hoje é pó:
Pulvis es?
(...)
Sermão da Quarta-Feira de Cinzas - Parte 7
Morre a águia, morre a fênix, mas a águia morta não é águia, a fênix morta é fênix. E por que?
A águia morta não é águia porque foi águia, mas não há de tornar a ser águia. A fênix morta é fênix, porque foi fênix, e há de tornar a ser fênix.
Assim és tu que jazes nessa sepultura. Morto sim, desfeito em cinzas sim, mas em cinzas como as da fênix. A fênix desfeita em cinzas é fênix, porque foi fênix, e há de tornar a ser fênix. E tu desfeito também em cinzas és homem, porque foste homem, e hás de tornar a ser homem.
Não é a proposição, nem comparação minha, senão da Sabedoria e Verdade eterna. Ouçam os mortos a um morto que melhor que todos os vivos conheceu e pregou a fé da imortalidade. In nidulo meo moriar, et sicut phoenix multiplicabo dies meos: Morrerei no meu ninho, diz Jó, e como fênix multiplicarei os meus dias.
Os dias soma-os a vida, diminui-os a morte e multiplica-los a ressurreição.
Por isso Jó como vivo, como morto e como imortal se compara à fênix. Bem pudera este grande herói, pois chamou ninho à sua sepultura, comparar-se à rainha das aves, como rei que era.
Mas falando de si e conosco naquela medida em que todos somos iguais, não se comparou à águia, senão à fênix, porque o nascer águia é fortuna de poucos, o renascer fênix é natureza de todos.
Todos nascemos pare morrer, e todos morremos para ressuscitar. Para nascer antes de ser, tivemos necessidade de pai e mãe que nos gerasse; pare renascer depois de morrer, como a fênix, o mesmo pó em que se corrompeu e desfez o corpo, é o pai e a mãe de que havemos de tornar a ser gerados.
Putredini dixi: pater meus es, mater mea, et soror mea vermibus.
Sendo pois igualmente certa esta segunda metamorfose, como a primeira, preguemos também aos mortos, como pregou Ezequiel, para que nos ouçam mortos e vivos (Ez 37, 4). Se dissemos aos vivos: lembra-te homem que és pó, porque foste pó, e hás de tornar a ser pó — brademos com a mesma verdade aos mortos que já são pó: lembra-te pó que és homem porque foste homem, e hás de tornar a ser homem: Memento pulvis quia homo es, et in hominem reverteris.
Para ler o Sermão da Quarta-feira de Cinzas na íntegra cliqueAqui Para ver os outros vídeos com a leitura do Sermão, cliqueAqui E para saber mais sobre a vida e a obra do Padre Antônio Vieira, clique nos seguintes links: um, dois e três
O baque foi grande e muito se perdeu em janeiro. No entanto, é preciso prosseguir e a Escola de Música da Calçada da Cultura já está em pleno funcionamento. Com aulas às terças, quintas e domingos, a escola está aberta a todos e é totalmente gratuita, disponibilizando aulas de violão, cavaquinho, bandolim, contrabaixo acústico, teclados, trumpete, clarinete, trombone, saxofone, canto coral e pandeiro. Pra quem já têm o seu instrumento, é só comparecer na Lira de Santa Cecília, na Estação, e fazer sua inscrição. Aos que não possuem instrumentos, ainda existem alguns disponíveis para empréstimo.
A Escola funciona nas terças e quintas das sete às nove da noite e aos domingos, de nove às onze da manhã.
Essa semana recomeçaram as aulas na Escola Portátil de Música no Rio de Janeiro, onde os instrutores da Calçada estão se aperfeiçoando, e alguns alunos que começaram o aprendizado em São José já foram admitidos lá para aprofundarem seu aprendizado. É o caso de Gabriel, que frequenta a EPM desde o segundo semestre do ano passado.
Gabriel na Roda de Choro da EPM - Benzinho (Jacob do Bandolim)
A seleção de músicas dessa edição giraria em torno do carnaval, diante dos acontecimentos os planos ficaram para o próximo ano. Passado o carnaval, é a Quarta-Feira de Cinzas, é a Quaresma. Período de reflexão, mas não de inação. Urge recomeçar, dar a volta por cima, renascer das cinzas.
O Ballet Stagium foi fundado no dia 23 de outubro de 1971 Por Marika Gidali E Décio Otero. O trabalho do grupo não se restringe às apresentações pelos teatros, tendo um trabalho de divulgação da dança que já os levaram a desbravar o Brasil se apresentando em hospitais, circos, igrejas,escolas, prisões, praças públicas.
Desenvolvem também um belo trabalho social no Projeto Joaninha,fundado em 2000 e que ensina balé para crianças entre os 7 e os 16 anos, pertencentes às escolas públicas das periferias de São Paulo.
Aqui, a coreografia Chorus:
Parte I
Parte II
Parte III
Página Oficial do Ballet Stagium, AQUI
Canal do YouTube, AQUI
Nessa edição damos um pulo na vizinha Argentina. A música não podia deixar de ser o tango, mas o tango de Astor Piazzolla, que para muitos teve um papel semelhante ao de Tom Jobim e a turma da bossa nova ao introduzir elementos novos à tradição portenha. De início seu trabalho sofreu restrições dos mais tradicionalistas, mas ao longo dos anos sua obra foi ganhando uma dimensão universal, sendo hoje tocada em várias partes do mundo.
Adios Nonino - Astor Piazzolla
Invierno Porteño - Mandolim Chamber Orchestra
Libertango - Leandro Caparelli & Marie Soler
Para Saber Mais sobre Astor Piazzolla, clique AQUI e AQUI
A criação de Péricles Maranhão, foi publicada entre 1943 e 1962 no Cruzeiro, a revista de maior circulação do país na época. Foi talvez o personagem de cartum mais conhecido do Brasil, considerado inclusive como uma das razões do sucesso da revista na época. Ao perceber que muitos só liam o cartum, publicado na contra-capa da revista, e não a compravam, os editores passaram a publica-la no meio da revista.
Na década de 80, uma peça escrita pelo Chico Caruso e dirigido por Paulo Betti, fez sucesso ao contar a vida de Péricles Maranhão e sua famosa criação. Clique AQUI e AQUI para ver trechos dela.
Para saber mais sobre Péricles Cavalcanti e ver mais cartuns clique AQUI e AQUI
Nessa edição vamos resgatar uma das manifestações mais bacanas que já ocorreram na Calçada da Cultura, que foi a instalação, de criação coletiva, Jardim de Pedras.
Gilvan Samico está hoje com 82 anos e reside na cidade de Olinda, Pernambuco. Já a alguns anos diminuiu o ritmo de produções de suas gravuras passando a produzir uma por ano, com tiragens limitadas, dedicando mais tempo na elaboração de cada obra.
Formada nos anos mais duros da ditadura militar, o Ballet Stagium desenvolveu um trabalho de resistência às arbritariedades do regime e por conta disso e das viagens por todo o Brasil, sempre deu primazia por buscar uma brasilidade em suas apresentações, privilegiando temas e danças que refletiam a constituição de nossa nacionalidade.
Aqui, trechos de algumas apresentações:
Bossa Nova
Coisas do Brasil
Adoniran
Página Oficial do Ballet Stagium, AQUI
Canal do YouTube, AQUI
Piazzolla estaria completando noventa anos no último dia 11 de março. Ele fez alguns shows no Brasil e seu amálgama de jazz, música erudita e tango é admirada por vários compositores e músicos brasileiros.
Adios Nonino - Hamilton de Holanda e Yamandu Costa
Libertango - Rufo Herrera e Orquestra Ouro Preto
Astor Piazzolla - Michelangelo 70 no programa Chico e Caetano em 1988
Péricles Maranhão, apesar de todo o sucesso de sua criação, era um ser angustiado e sofria por todos só o conhecerem como o criador do Amigo da Onça. Terminou por suicidar-se numa noite de ano novo ao se trancar em seu apartamento com o gás ligado. Não sem antes deixar um bilhete pregado à porta:
"Não risquem fósforos"
Após sua morte, o Amigo da Onça seguiu sendo desenhado por outro grande desenhista, Carlos Estevão.