23 de julho de 2011

Fora de Catálogo - João Gilberto


          Numa edição que fala dos 80 anos de João Gilberto, claro que essa seção do Fora de Catálogo tinha que abordar a mais notável ausência de reedição da discografia brasileira. Os três primeiros LPs de João Gilberto continuam até hoje sem um relançamento decente em CD. Eles foram juntados pela gravadora em um único CD, chamado "O Mito", na década de 90, que teve que ser tirado de circulação devido a uma ação judicial movida por João, que alegou que a gravadora deturpou o conceito original dos discos ao alterar a ordem das faixas e a mixagem original. A disputa jurídica continua até hoje, e o mundo continua sem poder ouvir alguns dos trabalhos fundamentais do século XX. Resta recorrer à rede...


João Gilberto (1959)


           "Esse primeiro LP de João Gilberto dura 22 minutos e 35 segundos definindo outra marca inédita, a economia, a depuração do supérfluo. Na condução dos arranjos de Tom Jobim o guia era o violão de João Gilberto. Espremendo a essência de cada canção, João concentrava a fluidez rítmica e melódica; penetrando na sua construção original, introduzia com Tom uma harmonia de acordes invertidos executados em bloco. Sem perda do caráter brasileiro, aquela música alcançava um contexto universal."


O Amor, o Sorriso e a Flor (1960)




          "O repertório reunia canções essenciais da bossa nova, uma obra-prima de Carlinhos Lyra, Se É Tarde me Perdoa, outra de Tom, Corcovado, uma terceira de Tom e Newton Mendonça, Meditação, com o verso que deu título ao disco, "o amor, o sorriso e a flor", e o estigma do bom humor na bossa nova, O Pato do ilustre desconhecido Jayme Silva, simbolizando a ligação de João com antigos conjuntos vocais. Na primeira faixa estava o mais convincente modelo de integração texto/melodia da música brasileira, o Samba de Uma Nota Só, de Tom Jobim e Newton Mendonça, possivelmente a síntese da bossa nova nos fundamentais elementos de letra, melodia, ritmo e harmonia. A interpretação de João é direta e enxuta com um final seco após 1 minuto e 35 segundos de perfeição."


João Gilberto (1961)




          "O terceiro LP foi concluído a duras penas após 5 meses e em duas fases, a primeira com a participação do conjunto do organista Walter Wanderley, um músico excepcional, e a segunda com orquestra sob regência de Tom Jobim que também fez os arranjos. Sambas do passado de Caymmi, Geraldo Pereira e da dupla Bide & Marçal eram de tal forma alterados na rítmica e na harmonia que não soavam como outra versão mas como um outro samba. Mas o maior acontecimento desse disco, que tem seu nome como título, foi a apresentação das primeiras gravações de João com violão e nada mais, formando uma entidade que seria a tônica de seus recitais, o que há de mais sublime na música brasileira ainda hoje. Não é um cantor se acompanhando ao violão, são os dois juntos, é um novo conceito representado por dois timbres diferentes, o das cordas vocais e o das cordas do violão formando um terceiro timbre, o de João Gilberto."




Texto: Zuza Homem de Mello, d'AQUI
Entenda melhor a disputa entre João e a gravadora, AQUI
Os links para download foram tirados de um dos melhores blogs que disponbilizam música brasileira, o Um Que Tenha

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