Flávio Colin começou a trabalhar com histórias em quadrinhos nos anos 50. Seu primeiro sucesso foram "As Aventuras do Anjo", adaptação de uma rádio-novela de sucesso na época. Como todos os profissionais surgidos nessa época heróica e desbravadora para as HQs, trabalhou com quase todos os gêneros, infantil, terror, aventura, eróticos. Dono de traços simples, mas característicos, facilmente identíficaveis, Colin dedicou boa parte de sua obra para tratar de temas relativos ao nosso folclore e a nossa história.
Um de seus trabalhos mais festejados foi a tirinha diária Vizunga, publicada pela Folha de São Paulo na década de sessenta. Elas narravam as histórias de um ex-caçador e pescador que, em rodas de amigos, conta e ouve casos. O que mais chama atenção em Vizunga são as duas maneiras de se ilustrar a história. Uma de forma mais séria, utilizando traços tradicionais e outra se utilizando de linhas mais caricaturais, para enfatizar as mentiras e exageros do personagem principal, um grande contador de "causos".
__Copacabana
__ Mais tarde caminho pela Avenida Atlantica, olhando o mar a as gaivotas...
__ Lá na beira, frenteàs ondas, avisto um pescador. A seu lado, cravada na areia, a vara com molinete. Paro intrigado. O que pescaria ele?
__ Que peixes ainda se arriscariam em águas tão frequentadas por toda gente.
__ Nisto...
__ Oh! O Lopes veio cedo hoje.
__ Aquele lá, que está pescando. É muito meu amigo. Um mestre pra pegar enchovas!
__ Enchovas? Mas...
__ O quê? Dá muito aqui. Principalmente no verão. Chegam pertinho da praia. Mas só até a altura do posto três e meio. Vindo do posto seis é só garatear.
__ Garatear?
__ Garatéia é um anzol triplo. Isca-se com rabeta de sardinha, o que é um pitéu pra enchova marisqueira.
__ Puxa! Nunca pensei que isto ainda fosse possível nesta praia!
__ Pois até linguado dá aqui. Mas às vezes a gente passa a noite inteira lançando e só pega mesmo é papa-terra, pampo-galhudo ou arraia. Também dá corvina e cocoroca.
__ Bah!
__ É por isso que quase todos vem pescar de molinete leve, tipo francês, que não dá retrocesso. O "nylon" sai aos arrancos, fácil de travar, e não faz cabeleira.
Depois de mais algumas tirinhas introdutórias, Colin ilustra o primeiro "causo" contado por Vizunga:
__ ...e ergui pelas guelras um jaú pesando mais de oitenta quilos!
__ Mas aí, meu amigo, cadê tutano pra carregar o bicho até o topo do barranco? Eu estava exausto.
__ ...e meu primo - coitado! - se mal aguentava comigo, que diria com mais aquele jaúzão!
__ Mas...
__ Socorro! Acudam! Socorro!
__ Todos os pescadores que estavam empoleirados no local, largaram suas varas e vieram ajudar.
__ Puseram-se uns atrás dos outros, agarrando-se pela cinta e formando uma longa fileira que...
__ Que começava comigo.
__ E ia terminar lá em cima, num mascate que puxava seu jerico pelo cabresto.
__ Então, a fileira começou a mover-se e eu e o jaú fomos içados.
__ É claro que nada contamos a meu tio, mas o velho admirou-se muito ao ver o jaú, e eu fiquei com um baita cartaz lá na fazenda.
__ Bem, acho que já o importunei demais, vou andando...
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